domingo, 16 de fevereiro de 2025

Dois Pastores Suíços e eu

Saí de casa por volta das 21h de um domingo para comprar ração para os gatos na Petz da Raja. Ao chegar, notei no balcão de entregas um rapaz com dois Pastores Suíços – jovens, mas já bem desenvolvidos.

Troquei olhares com um deles e, mesmo sentindo um leve receio, decidi me aproximar do balcão para pegar minha encomenda. Tentei evitar contato visual com os cães, mas meu coração estava ligeiramente acelerado. Quando inevitavelmente olhei para um deles, o animal deu um salto em minha direção, sendo prontamente contido pelo seu guardião.

Pensei em buscar proteção atrás do balcão, mas mantive minha posição, aguardando o atendente finalizar o atendimento ao rapaz. Observando o grande pacote de ração que ele comprara, imaginei que, ao pegá-lo, precisaria soltar uma das mãos das coleiras. Minha preocupação se confirmou: assim que o rapaz segurou o pacote, o cão tentou novamente pular em minha direção, sendo mais uma vez contido.

O guardião se desculpou com a típica frase "isto nunca aconteceu antes" e partiu. Peguei minha encomenda e retornei para casa.

Em circunstâncias normais, talvez eu não tivesse refletido tanto sobre este episódio. Afinal, conheço a raça e sei que são cães geralmente obedientes – o pior cenário provável seria uma derrubada ou um pequeno acidente. Contudo, como paciente em tratamento de quimioterapia para Mieloma Múltiplo, percebi que subestimei os riscos ao confiar excessivamente em minha experiência prévia com cães.

A antifragilidade nos ensina que devemos não apenas nos proteger contra riscos, mas também aprender e nos fortalecer a partir deles. Neste caso, a experiência me mostrou que o gerenciamento de riscos precisa ser dinâmico e contextual: o que é um risco aceitável em determinado momento pode se tornar crítico em outro. Como paciente em tratamento, cada decisão precisa ser avaliada não apenas por sua probabilidade de ocorrência, mas principalmente pelo impacto que um eventual incidente poderia ter em minha jornada de recuperação. Esta reflexão me fez perceber que a verdadeira antifragilidade está em reconhecer nossa vulnerabilidade e adaptar nossas decisões de acordo com nosso contexto atual.

Faz sentido pra você?





*** Belo Horizonte, 16 de fevereiro de 2025




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