terça-feira, 14 de janeiro de 2025

Antifragilidade em Ação: Tratamento médico e a vida que não para


Antifragilidade, um termo cunhado por Nassim Nicholas Taleb em seu livro "Antifrágil", é a capacidade de usar o estresse e a adversidade para se fortalecer. Não se trata de resistir ou voltar ao estado inicial, mas de transformar desafios em oportunidades de crescimento. 

Comecei nesta semana meu segundo tratamento contra o Mieloma Múltiplo e, desta vez, trago comigo o conceito de antifragilidade como uma bússola. A vida não para durante o tratamento – trabalho, família, compromissos – tudo continua. Por isso, é essencial criar estratégias práticas para equilibrar as demandas e enfrentar o momento de forma racional e estruturada.


Como aplico a antifragilidade no meu dia a dia?


1️⃣ Mindfulness e clareza mental: Praticar atenção plena me ajuda a estar presente e reduzir o impacto do estresse diário. Isso aumenta minha capacidade de tomar decisões com serenidade, tanto no tratamento quanto no trabalho. Três coisas que faço com boa frequência: 

 1. Meditar na varanda de casa por cerca de 15 minutos no início do dia.
 2. Caminhar em local seguro, sem ouvir música e com celular no silencioso, chamo isto de "caminhada mindful".
 3. Apreciação artística: em especial música, leitura e visita a museus de arte. Semana passada estive no MASP em São Paulo e me emocionei revendo obras dos meus pintores favorites, Van Gogh e Renoir.




Falei sobre minha admiração por Van Gogh aqui:



No YouTube mantenho uma playlist de mindful music:



E aqui falo sobre 10 livros legais que li em 2024:

  

📚✨ Meus 10 Livros Favoritos de 2024 ✨📖



E se você for de BH (Belo Horizonte pra quem não é daqui), sabia que tem uma trilha nova no Parque das Mangabeiras? Fomos conferir logo na manhã do dia da reabertura.







2️⃣ Planejamento e priorização consciente: Reavaliei minhas prioridades para focar no que importa de fato, seja na vida pessoal, seja na profissional. Essa reorganização é uma forma de gerenciamento de riscos (minha principal área de atuação profissional): minimizar distrações e alocar energia para o que traz mais impacto. Falei um pouco sobre isto nesta postagem sobre minimalismo:



No final desta postagem sobre minimalismo tem link para um vídeo no meu canal onde apresento uma bibliografia sobre o tema.





3️⃣ Cuidados com o corpo: Adotei uma alimentação equilibrada e evito excessos, sabendo que minha energia física é crucial para sustentar o tratamento. E agora tenho uma meta concreta: preciso perder pelo menos 6 quilos nas próximas 16 a 24 semanas (duração prevista para a primeira fase do tratamento), caso contrário não poderei fazer um transplante autólogo de medula na fase final do tratamento por falta de material (minhas células-tronco foram coletadas e congeladas por ocasião do primeiro tratamento). Além disso mantenho uma rotina de atividades físicas moderadas, o que me ajuda a preservar força física e disposição sem sobrecarregar o corpo. Isto não é simples, pois se "passo do ponto" fico sujeito a pegar uma doença oportunista, um simples resfriado pode atrapalhar bastante o meu tratamento.

4️⃣ Lições aprendidas e adaptação: Trago comigo a experiência do primeiro tratamento, que compartilhei por aqui em postagens como esta:



Cada etapa é uma oportunidade para refinar estratégias e aprender com o que deu certo – e com o que pode ser feito de forma diferente.

5️⃣ Inteligência emocional: Aceitar o que não está sob meu controle e investir minha energia no que posso influenciar. Esse equilíbrio é fundamental para lidar com a incerteza e manter a produtividade e a energia em meio aos desafios.

6️⃣ Gerenciamento de riscos aplicado à vida pessoal: Assim como nos projetos em que atuo profissionalmente, aplico conceitos de identificação, análise e mitigação de riscos à minha rotina. Prever desafios e criar respostas antecipadas reduz impactos e mantém a estabilidade. Aqui recorro de forma recorrente aos operadores cognitivos do pensamento complexo, que são:


1. CIRCULARIDADE: “Os efeitos retroagem sobre as causas e as realimentam.”

 

2. AUTOPRODUÇÃO: “Os seres vivos produzem, eles próprios, os elementos que os constituem e se auto-organizam por meio desse processo.”

 

3. O OPERADOR DIALÓGICO: “Há contradições que não podem ser resolvidas. Isso significa que existem opostos que são ao mesmo tempo antagônicos e complementares.”

 

4. O OPERADOR HOLOGRAMÁTICO: “As partes estão no todo, mas o todo também está nas partes.”

 

5. INTERAÇÃO SUJEITO-OBJETO: “O observador faz parte daquilo que observa.”

 

6. ECOLOGIA DA AÇÃO: “As ações com frequência escapam ao controle de seus autores e produzem efeitos inesperados e às vezes até opostos aos esperados.”

 



Saiba mais sobre estes operadores neste excelente artigo do Professor Humberto Mariotti:



A antifragilidade, para mim, é sobre construir bases mais sólidas e me tornar uma pessoa melhor a partir do inesperado. Gosto de calmarias, sou humano, portanto tenho meus altos e baixos, mas me preparo para navegar por águas turbulentas com estratégia, foco e aprendizado constante.

A vida é um fluxo ininterrupto de decisões. Encaro cada uma delas como uma oportunidade de progresso, com determinação, serenidade, uma certa dose de humor e um bocado de equilíbrio.🌟



Ah, e se você trabalha com projetos de capital eu te recomendo este artigo que postei no Linkedin recentemente:


Caso precise de uma excelente consultoria sobre o assunto fique à vontade para me procurar!




Tem vontade de se tornar uma pessoa melhor com base nos temas que tratei neste artigo (exceto Antifragilidade, que ficou de fora e deve ser objeto de um novo curso)? Confira esta postagem no meu LinkedIn com link para vídeo de degustação do meu curso Melhore! no meu canal no YouTube, é uma lição do Módulo 7 - Gestão do Tempo Pessoal:




 Muito obrigado e um excelente 2025 pra nós!
  

*** Belo Horizonte, 14 de janeiro de 2024

terça-feira, 31 de dezembro de 2024

📚✨ Meus 10 Livros Favoritos de 2024 ✨📖

 Nesta minha última postagem de 2024 queria destacar os livros que que marcaram meu 2024 e que, quem sabe, também podem inspirar você:




"Cozinha Confidencial" (Kitchen Confidential), de Anthony Bourdain:
Um olhar cru e fascinante sobre o mundo da culinária. Não é apenas sobre comida; é sobre paixão e perseverança. Sou fã do Anthony e senti muito quando ele nos deixou, tirando a própria vida em 2018.


"Memórias", de Rubens Ricupero:
Uma reflexão profunda sobre a história política e econômica, repleta de lições sobre liderança e legado. E sim, Rubens Ricupero foi muito mais do que Ministro da Fazenda de Itamar Franco, foi um dos maiores diplomatas da nossa história.


"Zensorialmente", de Estanislao Bachrach:
Explorando a conexão entre mindfulness e inovação, este livro é transformador para quem busca alimentar o pensamento criativo. Autores argentinos costumam apresentar ideias bastante originais quando escrevem sobre temas ligados a comportamento.


"Think Better", de Ulrich L. Lehner:
Técnicas práticas para aprimorar a tomada de decisões e a resolução de problemas—indispensável para profissionais de gestão de projetos. O autor é PhD em Teologia e às vezes avança um pouco demais para o campo da metafísica, mas nada que comprometa as excelentes ideias apresentadas no livro.


"Como Grandes Coisas Acontecem" (How Big Things Get Done), de Prof. Bent Flyvbjerg e Dan Gardner:
Repleto de estratégias para executar megaprojetos com sucesso, alinhado à minha experiência em gerenciar projetos complexos. Considero 
Bent Flyvbjerg a principal referência mundial em megaprojetos.


"Sapiens", de Yuval Noah Harari:
Uma leitura que explora a evolução humana e desafia a forma como entendemos a cultura e a sociedade. Disponível em inglês e português. Estava passando da hora de ler este livro, lançado em 2014.


"Nunca Divida a Diferença" (Never Split the Difference), de Christopher Voss:
Uma aula magistral sobre técnicas de negociação, com insights de um ex-negociador do FBI—essencial para negociações de alto impacto. Gostei tanto do livro que ele me inspirou a lançar nesta ano a terceira versão do meu curso sobre Negociação, incorporando as ideias apresentadas pelo autor.


"Risco" (Risk), de General Stanley McChrystal e Anna Butrico Conti:
Um framework poderoso para entender e gerenciar riscos, essencial para navegar no mundo corporativo atual. O autor é um militar e fala sobre riscos no universo corporativo, adoro ler livros sobre risco de autores que não são da área de gerenciamento de projetos.


"Caminho de Pedras", de Rachel de Queiroz:
Um mergulho profundo no despertar político e na consciência feminista do Brasil dos anos 1930, acompanhando a jornada de uma mulher em busca de amor, ativismo e libertação pessoal. Primeiro livro da lista atualizada de leituras obrigatórias para o exame da Fuvest e que valerá partir de 2026 até 2028, contém exclusivamente obras de mulheres autoras de língua portuguesa. Para 2025 espero ler mais alguns da foto abaixo:




Inês Pedrosa e Teolinda Gersão não estão na lista da FUVEST, mas estão na minha! Você consegue conferir a lista da FUVEST aqui:


 Leituras obrigatórias da Fuvest terão só obras de mulheres


"O Ato Criativo" (The Creative Act), de Rick Rubin:

Um guia meditativo e esclarecedor que desmistifica o processo criativo, destacando que a criatividade é um estado natural acessível a todos. Rick Rubin produziu, dentre outros, músicos como Johnny Cash, Beastie Boys, Run DMC, Slay, Tom Petty, Red Hot Chili Peppers, System of a Down, Nusrat Fateh Ali Khan, Black Sabbath e Eminem, dentre outros. Pois, quando um cara destes escreve alguma coisa sobre criatividade a gente tem que ler!

Essas leituras enriqueceram minha visão sobre liderança, gestão de projetos, criatividade e crescimento pessoal. Seja para inovar, liderar ou entender a história humana, há algo aqui para todos.


E pra você, quais livros marcaram seu 2024?


Compartilhe nos comentários os livros que inspiraram, divertiram ou desafiaram você este ano — eu adoraria conhecer as suas recomendações!


*** Belo Horizonte, 31 de dezembro de 2024, 19h30

domingo, 22 de dezembro de 2024

minimalismo





Minimalismo: Simplifique Sua Vida no Mundo Físico e Digital

Em um mundo de excessos, onde o material e o digital competem por nossa atenção, o minimalismo se apresenta como uma abordagem para viver com mais intenção e menos distrações. Inspirado pela máxima "menos é mais", o minimalismo não é apenas uma escolha estética, mas uma filosofia de vida que valoriza o essencial.


O que é Minimalismo?

Minimalismo é o ato de reduzir o supérfluo e focar no que realmente importa. No plano físico, significa priorizar experiências, relações e valores em vez de acumular objetos. No digital, é sobre utilizar a tecnologia de forma consciente, livrando-se do excesso de informações e distrações.


As Origens do Minimalismo

O minimalismo tem raízes em filosofias como o Zen Budismo, que exalta a simplicidade e o desapego, e no Estoicismo, que valoriza a moderação e o foco no essencial. Pensadores como Sêneca e figuras religiosas como São Francisco de Assis também reforçaram a ideia de que a felicidade vem da simplicidade. No século 20, o conceito foi resgatado pelo movimento Bauhaus, que trouxe a máxima funcionalidade e formas simples ao design e à arquitetura.


Minimalismo Digital: Uma Necessidade Moderna

Em um mundo cada vez mais conectado, o minimalismo digital é a extensão dessa filosofia para o ambiente virtual. Trata-se de reavaliar como usamos a tecnologia, eliminando excessos que roubam tempo e atenção e nos desconectam do presente.


Benefícios do Minimalismo Físico e Digital

  1. Mais Tempo: Reduzindo posses e distrações, sobra tempo para o que realmente importa.
  2. Clareza Mental: Um ambiente limpo e organizado promove foco e tranquilidade.
  3. Sustentabilidade: Consumir menos é um passo importante para cuidar do planeta.
  4. Maior Produtividade: Menos distrações digitais levam a melhores resultados.
  5. Conexões Significativas: Foco em experiências e relacionamentos reais, em vez de interações superficiais.


Recomendações para uma Vida Mais Simples

  1. Revise seu espaço físico e digital: Doe ou descarte itens que não usa e faça uma “limpeza” em seus dispositivos físicos e digitais.
  2. Estabeleça limites para o uso de tecnologia: Desative notificações e crie horários específicos para verificar e-mails e redes sociais.
  3. Valorize experiências: Invista mais tempo em atividades como leitura, caminhada ou encontros com amigos. Quando for a um show, concentre-se na experiência e não no registro.
  4. Crie períodos de desintoxicação: Separe um dia ou algumas horas por semana para desconectar-se de telas.
  5. Pratique o desapego: Pergunte a si mesmo, antes de adquirir algo, se aquilo realmente agrega valor à sua vida.


Conclusão

O minimalismo, seja no plano físico ou digital, não se trata de privação, mas de liberdade. É um convite para redescobrir o que é essencial e alinhar nossas ações com nossos valores. Menos bagagem, mais propósito.

Comece hoje: o que você pode simplificar na sua vida agora? Compartilhe sua jornada e inspire outros a buscar o essencial!


Saiba mais


Arquivo de apoio para o webinar "Além do essencial: construindo uma vida plena com minimalismo" apresentado em dezembro de 2023 para o PMI-MG, capítulo Minas Gerais do Project Management Institute. 


"Hemingway, "O Velho e o Mar" e a Essência do Minimalismo"


Uma bibliografia sobre minimalismo (não se deixe confundir pelo título do vídeo)






***** Belo Horizonte, 22 de dezembro de 2024

quarta-feira, 7 de agosto de 2024

Sobre "ladrões de tempo"

 



Achei interessante compartilhar com vocês esta resposta que dei via mensagem a um colega do LinkedIn que me pediu para dizer quais seriam os três ou quatro elementos que mais prejudicam minha produtividade ("ladrões de tempo"). Respondi assim:


Olá, João, obrigado pela sua mensagem! Sobre a sua pergunta, minha resposta é um tanto incomum, já que também estudo e aplico conceitos de gestão do tempo pessoal e minimalismo digital na minha vida. Sem considerar minhas estratégias de resposta, os elementos que mais prejudicam minha produtividade seriam:

1. "Multitarefa ineficiente": evito ao máximo, prefiro trabalhar de forma sequencial em atividades que demandem maior concentração em blocos de até três horas ou até alcançar um resultado tangível, o que ocorrer primeiro.

2. Ambiente ruidoso: trabalho a maior parte do tempo em casa, onde praticamente não tenho problemas com distrações devido ao ruído. Mas costumo também trabalhar no ambiente de clientes e parceiros, e nestes casos, se não estou em reunião, ouço música (geralmente instrumental ou numa língua diferente da minha, para não chamar minha atenção) com fones de ouvido com cancelamento de ruído.

 3. "Sim intempestivo": às vezes somos pressionados a dizer sim para uma nova demanda, geralmente urgente, que não se enquadra no nosso propósito, e isto atrapalha todo o nosso plano de trabalho. Evito isto ao máximo, o que garante para quem me conhece a certeza de que cumpro aquilo que prometo.

Sobre ferramentas,  uso uma versão pessoal do Método GTD de David Allen, e minhas ferramentas principais são a captura de tela no celular e o Evernote. Ah, e claro, mais recentemente ChatGPT e Claude, recém-chegado no Brasil.

Falo um pouco mais sobre temas relacionados nesta postagem:

 

 Pílulas para Melhorar: #3 - Gestão do Tempo Pessoal

  

Um abraço!

*** Belo Horizonte, 7 de agosto de 2024.



sábado, 24 de fevereiro de 2024

A âncora em negociações

 Eu estava em um Shopping e passando em frente a uma loja de roupas masculinas de luxo eu vi um terno que me chamou a atenção, tanto por ser muito bonito quanto pelo que parecia ser o preço, que achei muito barato (R$890,00) considerando a qualidade e a marca do terno. Ao me aproximar da vitrine consegui ler melhor a etiqueta de preço, e descobri que este era de... 12 prestações de R$890,00... Nem me atrevi a entrar na loja!

O valor inicial de R$890,00, por si só, não significa muito. Só quando o associamos a um produto ou serviço nosso cérebro passa a fazer associações que nos fazem concluir se aquele valor torna o objeto desejado "caro" ou "barato" segundo nossas referências naquele momento (o "Sistema 2" de Kahneman passa a trabalhar). Em toda negociação que envolva valores (e a compra de um terno, ou de um carro, serviço de consultoria, curso etc. são basicamente negociações) este primeiro valor que aparece é conhecido como "âncora". Vários estudos sobre negociação dizem que a grande maioria dos negócios são fechados por um valor que varia (para mais ou para menos) cerca de 20% ao redor da âncora.



Hum, que interessante... Então podemos pensar que sempre que estivermos envolvidos numa negociação devemos começar com uma âncora de valor bem alto em relação ao produto ou serviço que estamos oferecendo, certo? De jeito nenhum, pois um valor muito alto (ou muito baixo, se estivermos numa posição de compra) pode prejudicar o relacionamento com a outra parte e até mesmo inviabilizar uma negociação por falta de confiança do outro em nós.

Mas, atenção: iniciar uma negociação com um valor de âncora excessivamente alto pode danificar a relação de confiança e até inviabilizar o acordo. Portanto, a preparação prévia é essencial para definir uma âncora baseada em critérios objetivos. E sobre quem deve revelar o primeiro número? Bem, isso pode valer a pergunta de R$10.680,00 (não resisti...) - a resposta depende do momento e talvez do nosso "Sistema 1", a nossa intuição. Prepare-se, negocie com sabedoria e confie também nos seus instintos.

Quer saber mais sobre Sistemas 1 e 2? Confira este excelente livro do Kahneman:






*** Belo Horizonte, 24 de fevereiro de 2024.




quarta-feira, 21 de fevereiro de 2024

Em uma negociação, um NÃO pode ser um bom começo

 Depois de alguns meses numa empresa atuando novamente como desenvolvedor de sotware (nos trabalhos anteriores eu havia atuado em cargos de gerente técnico e/ou de projetos) uma vaga interna de gerente de projetos foi aberta, eu me candidatei e fui aceito.

É claro que gostei, pois alcancei em menos de um ano um objetivo importante do meu PEP (Planejamento Estratégico Pessoal) e de imediato coloquei em prática um projeto de conseguir um aumento de salário de forma a compatibilizar o novo cargo com a remuneração que eu acreditava que deveria ter na nova posição. Só havia um problema: as normas da empresa impediam qualquer funcionário de ter alteração salarial em períodos inferiores a doze meses desde a admissão ou última movimentação. Você acha que eu desisti por causa disto? Continue lendo...

Depois de dois meses no novo cargo (e oito na empresa) eu pedi uma reunião com meu chefe para conversarmos sobre a minha situação funcional. Preparei um roteiro, já sabendo que as normas não permitiriam uma movimentação salarial, falei sobre o meu desempenho de forma simples, clara e direta, apontando fatos e dados, e pedi um aumento. E, como esperava, recebi um não, mas o importante foi o que estava por trás: ele me disse que se não fosse pelas normas da empresa ele me atenderia, elogiou meu trabalho e me pediu para esperar.

Continuei trabalhando com a mesma motivação e orientação para resultados, assumi um projeto interno de melhoria dos processos de gerenciamento de projetos e quando meu primeiro aniversário na empresa chegou eu pedi nova conversa com meu chefe, que foi assim:

Entrei na sala, ele me pediu para sentar, eu comecei a apresentar meus argumentos, ele me interrompeu e disse que já havia entendido o que eu queria, e aí me deu um pedação de papel em branco e falou:

   - "Ivo, escreva neste papel quanto quer ganhar, dobre o papel e me devolva."

Fiz o que ele me pediu, escrevi no papel o número que buscava (imaginando que seria a nossa "âncora" inicial), dobrei o papel e devolvi para ele. Meu chefe pegou o papel, colocou no bolso sem ler e disse (sério!):

  - "Pronto. Você quer tratar de mais algum assunto?"

Respondi que não, me despedi, e meu próximo salário veio com o valor que coloquei no papel, um aumento de cerca de 55%, um número significativo mesmo em tempos de inflação alta, mesmo porque poucos meses depois veio o famoso dissídio e meu reajuste salarial foi em cima de uma base muito maior.

Quer saber detalhes sobre como me preparei e conduzi esta negociação? Venha fazer comigo meu novo curso sobre o tema, primeiras turmas em abril e maio. Ainda não iniciei a divulgação oficial, mas se estiver interessado me mande uma mensagem ( ivomichalick@m2cc.com.br ) que eu te passo detalhes de uma promoção de pré-lançamento que estou fazendo até 02-mar. As datas já estão definidas:


Turma 1: 03 e 04-abr (quarta e quinta)

Turma 2: 06 e 07-mai (segunda e terça)

Sempre de 19h às 22h (carga horária total de 6 horas por turma)


Sobre o título desta postagem, foi inspirado no livro do Chris Voss ("Never Split the Difference"/"Negocie como se sua vida dependess disso"), uma importante referência do meu novo curso e sobre o qual falei nesta outra postagem:


"Never Split the Difference"




Chris fala no livro que não devemos nos apressar pela busca de um SIM em negociações, algo que pode ser prematuro e ruim para o processo, e enxergar o  NÃO inicial como um bom ponto de partida. Também falo com mais detalhes sobre isto no meu novo curso.

Ah, e como falei sobre um "projeto interno de melhoria dos processos de gerenciamento de projetos", caso queira saber mais a respeito confira este artigo:


 "Aperfeiçoando o gerenciamento de projetos em uma instituição de P&D"


Caso se interesse por Negociação fique atento às próximas postagens, vou trazer mais textos sobre este assunto para promover o novo curso.


*** Belo Horizonte, 21 de fevereiro de 2024




 






terça-feira, 30 de janeiro de 2024

"Never Split the Difference"

 "Never Split the Difference" é ao mesmo tempo o nome do mais recente (e um dos três melhores) livro que li sobre negociação, e também um excelente conselho sobre negociação que vai contra o que pensam boa parte das pessoas: numa negociação, se um lado oferece X e você Y, você deve tentar chegar num valor equidistante de X e Y. Exemplo: eu ofereço 100 e outro lado 50, então eu tento fechar em 75. Não!



O primeiro número que aparece numa negociação envolvendo valores é chamado de "âncora", falei sobre isto nesta postagem no meu Linkedin (dá uma conferida caso não esteja familiarizado com o conceito). E muitas vezes uma negociação começa com uma âncora totalmente arbitrária e inviável, como vemos muitas vezes em negociações com sequestradores em filmes e séries. O Chris Voss (autor), fala sobre isto ao longo de todo o livro e dedica um capítulo específico ao tema (o nove, "Bargain Hard").

Tem um exemplo real bem interessante no capítulo seis ("Bent the Reality") em que os sequestradores do sobrinho de um político importante no Haiti começam propondo uma âncora de U$150.000,00. Se a família do sequestrado estivesse pensando inicialmente em não pagar nada o negociador buscaria fechar por U$75.000,00 e, caso conseguisse, poderíamos considerar a negociação como bem sucedida. Isto está errado, afinal quem definiu que U$150.000,00 seria um valor "justo" pelo resgate de uma pessoa?!

Usando as técnicas desenvolvidos em seu trabalho como negociador do FBI Chris consegue fechar o resgate num valor de... U$4.751,00 mais um tocador de CD! E o refém é libertado, claro.

Quer saber como o Chris fechou neste valor e conseguiu libertar o refém? Leia o livro, ou fique atento às minhas postagens, pois em breve devo lançar um novo curso sobre negociação onde quero explorar bastante o que o Chris mostra em seu livro.

Eu havia dito no início que "Never Split the Difference" é um dos três melhores que já li sobre negociação. Os outros dois são "Getting More", de Stuart Diamond e "Getting to Yes", do trio Ury, Fisher e Patton (de Harvard), que eu usei como principais referências para o módulo sobre negociação do meu curso Melhore! de Power Skills.

Enquanto o curso novo não sai e você não tem oportunidade de conferir estes três livros, confira este material que preparei sobre negociação:


"Negociação em projetos"

Apresentação sobre negociação em projetos feita em agosto de 2012 em Foz do Iguaçu (ainda não tinha lido os livros do Stuart e do Chris)


*** Belo Horizonte, 30 de janeiro de 2024.