Cometi este erro com meu projeto pessoal de recuperação da saúde física (e de certa forma mental), pois o chamei de "Recovery 2015", estamos em fevereiro de 2016 e ainda não estou totalmente recuperado, além de ainda não ter conseguido correr com as minhas filhas no parque :(
Por outro lado já viajei sozinho a trabalho dentro do Brasil e para os Estados Unidos, isto em pleno inverno (confiram a foto abaixo)!
Eu em Philadelphia, janeiro de 2016
E antes disto fui para a praia com as meninas. Ficamos num resort na praia do Forte em que a distância da porta do nosso quarto até o restaurante era de cerca de 800 metros, portanto precisei caminhar quase 5 quilômetros por dia somente para me alimentar! Ah,, e já dirijo o carro da família (que tem câmbio automático). O meu eu ainda não tive coragem de tirar da garagem, mas desisti de vender.
De outubro para cá passei por uma segunda rodada de radioterapia, e parece que o tumor foi embora :) Ainda tenho dificuldade para caminhar, e preciso tomar cuidado, pois acho que a perda muscular nas pernas mudou meu centro de gravidade e eu agora me desequilibro com frequência (mas ainda não caí nem uma vez, nem mesmo na neve de Philly!).
Hoje enfrento dois grandes desafios neste projeto:
1. Preguiça: isto mesmo, nada de meias palavras! Como estive muito mal fisicamente estou tendo dificuldade em retomar uma atividade física regular. Por exemplo, preciso fazer reforço muscular nas pernas, e o jeito mais fácil é usar a academia do meu prédio, mas confesso que só fui lá duas vezes desde que tomei a decisão de fazer isto...
2. Perda do senso de urgência: poderia até dizer que este desafio é a causa do primeiro, mas entendo que são duas coisas diferentes. Como não estou mais "lutando pela minha vida", eu fico deixando muita coisa para depois, dizendo a mim mesmo que ainda estou em processo de recuperação. Isto é verdade, claro, mas sei que se trata de um sabotador interno (todos temos os nossos) me dizendo para continuar numa zona de conforto, com uma carga de trabalho muito baixa (no início do projeto reduzi bastante a clientela de coaching, as aulas e as consultorias) e sem maiores compromissos cotidianos. Não me entendam mal, não gosto de viver correndo, muito pelo contrário, mas acho que hoje estou mais para o outro lado deste espectro, e esta definitivamente não é a minha natureza.
Meu círculo familiar e de amizade me diz para não me preocupar com nada disto, mas eu me conheço e sei que está na hora de enfrentar de frente estes dois desafios, e acho que se usar nesta tarefa 50% da energia que usei nos primeiros meses do projeto vou tirar isto de letra!
Um livro que me ajudou demais nestas últimas semanas, e que espero que me ajude a enfrentar estes dois desafios, é este:
"Improv Wisdom", de Patricia Ryan Madson
A autora dá aulas de Improv em Stanford desde 1977. Eu, racional e hiperplanejador que sou, sempre fui fascinado pelo assunto, e no final do ano passado encomendei o livro dela na Amazon. Como ando meio preguiçoso (acabei de falar sobre isto) vou comentar só um pouquinho:
Cada capítulo é uma regra de Improv proposta/compilada pela autora, lembrando que nossa vida é feita/cercada de improvisações, portanto todas estas regras se aplicam diretamente a todos nós. As regras são:
1. "Say yes/Diga sim."
Esta é a principal regra do Improv, a autora nos sugere trocar em nosso discurso "sim, mas" por "sim e". Não significa necessariamente fazer o que não quer, mas sempre avaliar com carinho tudo o que for proposto a você.
2. "Don´t prepare/Não prepare."
Nossa, como gerente de projetos e mapeado como hiperplanejador esta é a mais difícil para mim, mas já ouvi conselho parecido de muita gente bem sucedida. Minha interpretação pessoal é que não compensa planejar demais, pois o mundo é muito complexo e devemos ficar atentos no que está acontecendo agora (e, no meu caso, considerar isto em nossos planos para o futuro).
3. "Just show up/Simplesmente compareça."
Concordo plenamente, sou fã desta frase do Woody Allen:
"Showing up is 80 percent of life."
Compareça no horário, combinado com os outros e com você mesmo. E comece seu dia com o que é importante para você!
4. "Start anywhere/Comece em qualquer lugar."
Muito parecido com o conceito de "next action" do David Allen, meu guru de gestão do tempo, que proponho a todos os meus clientes de coaching. Não sabe por onde começar um projeto? Não importa, comece em qualquer lugar, mas comece, todos os pontos de partida são válidos!
5. "Be average/Seja mediano."
Me lembrei do ditado "o ótimo é inimigo do bom". Muitas vezes o que é ordinário para nós é uma revelação para os outros.
6. "Pay attention/Preste atenção."
Um dos mais difíceis para mim, que costumo tentar fazer mais de uma coisa ao mesmo tempo. Mas melhorei muito nesta frente por causa do meu trabalho como coach, que me ensinou que durante uma sessão não há nada mais importante do que servir ao cliente da melhor forma possível. O que ainda tenho dificuldade é me lembrar dos nomes das pessoas, em especial alunos, já que para mim é comum ter pelo menos 300 alunos em um ano. Mas continuo buscando melhorar nisto!
7. "Face the facts/Encare os fatos."
Precisamos aceitar o outro como ele é, e não como gostaríamos que ele fosse. E precisamos ter cuidado com nossos sabotadores internos, que muitas vezes nos induzem ao erro, como comentei aqui.
8. Stay on course/Mantenha o rumo."
Minha interpretação pessoal: não desista, a menos que decida desistir! Ou: insista ao máximo enquanto acredita no projeto, mas não tenha medo de desistir se concluir que não vale mais a pena.
9. "Wake up to the gifts/Acorde para as dádivas."
Fique atendo aos detalhes, e procure perceber o copo "meio cheio". E reconheça o apoio de quem te ajuda, não importa de que forma.
10. "Make mistakes, please/Cometa erros, por favor."
É muito difícil aprender sem errar, ou sem conhecer os erros dos outros. Errou, admita e procure se concentrar no que vem a seguir.
11. "Act now/Aja agora."
Não procrastine, aja! E lembre-se do princípio #4.
12. "Take care of each other/Cuidem uns dos outros."
Ajude os outros e compartilhe controle quando atuar em equipe. Princípio bem alinhado com as propostas das metodologias ágeis de gerenciamento de projetos (assim como os princípios #2 e #4).
13. "Enjoy the ride/Aprecie a jornada."
Sorria o máximo que puder, e se algo que tiver que fazer não for do seu gosto, procure mudar o seu gosto! E lembre-se, muitas vezes a jornada é melhor que o destino...
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Ivo Michalick, 11 de fevereiro de 2016
Twitter: @ivomichalick
Belo Horizonte - BRASIL