sexta-feira, 30 de junho de 2017

"Ambiversão"

Eu sempre me achei uma pessoa tímida, ou melhor dizendo, introvertida. Minha família e meus amigos mais próximos sempre concordaram, mas com frequência eu encontro pessoas que se surpreendem quando digo isto, na linha de "Você, como assim, já assisti várias palestras suas com auditório cheio e você foi super bem!" ou coisa parecida. Também vai na contramão desta percepção o fato de que por muitos anos eu fui bastante ativo em fóruns de discussão na Internet, e com frequência escrevo no meu blog e interajo com leitores via email ou comentários. Até costumo dizer que fui "salvo pela Internet", pois através dela conheci centenas, talvez milhares de pessoas com as quais dificilmente iria interagir no mundo real sem este estímulo inicial.

Mas parte de mim sempre acho que esta coisa de ser introvertido seria verdade só até certo ponto. Aí em 2013 eu li "To Sell Is Human"/"Saber vender é da natureza humana", de Daniel Pink, que me apresentou o conceito de "ambiversão". Segundo Pink (traduzindo de artigo do autor disponível aqui  - por favor confira o artigo para saber mais sobre a Escala de Grant):

"Ambivertidos, um termo criado por cientistas sociais na década de 1920, são pessoas que não são nem extremamente introvertidas nem extremamente extrovertidas. Pense na escala de 1 a 7 usada por Grant. Ambivertidos não são 1 ou 2, mas também não são 6 ou 7. Eles ficam entre 3 e 5. Eles não são quietos, mas também não são barulhentos. Eles sabem como colocar suas opiniões, mas não são insistentes."




Isto me fez lembrar um dos maiores elogios que já recebi na vida de um colega de trabalho, vai em inglês mesmo pois é fácil de entender:

"Ivo is a man of few words, but each one is gold."

E para não parecer que estou me autopromovendo. aqui vão alguns adjetivos usados a meu respeito por pessoas que não são da minha família ou do meu círculo mais próximo de amigos: metido, arrogante, dono da verdade, pretensioso, autoritário e por aí vai...

Interessante, não? Minha leitura é de que todos estão certos, afinal estas foram suas percepções, e eu descobri que sou um "introvertido que às vezes tende para a ambiversão". E se queremos ter sucesso na vida precisamos dar atenção às opiniões positivas e negativas a nosso respeito. Muitas podem ser bobagens (geralmente por se basearem numa amostra muito pequena de nosso comportamento), mas boa parte retrata uma percepção concreta da outra pessoa, reforçada ainda mais quando outras pessoas emitem opinião similar.

Ok, mas e daí? E daí que eu acredito que todos nós que estamos mais para um dos extremos da Escala de Grant temos MUITO a aprender com o outro extremo, e podemos fazer isto via obervação e prática, ao mesmo tempo mantendo nossa essência interior. Continuo me considerando um introvertido, mas estou totalmente convencido da necessidade de incorporar aspectos de extroversão no meu comportamento e na minha comunicação com outras pessoas, em especial as extrovertidas, e vejo isto como uma tarefa para o resto da vida. E se você quer começar a fazer isto, eu sugiro este simples exercício:


Começando AGORA, passe a cumprimentar TODA pessoa com quem você interage na sua rotina diária (tanto pessoal quanto profissional) com um sorriso no rosto, chamando a pessoa pelo nome (se não sabe ou não se lembre pergunte, e trate de não esquecer!), olhando nos olhos e dizendo "Bom dia Alice" ou algo parecido. Pratique isto por duas semanas e depois reflita sobre o que aconteceu na sua vida. E caso se sinta à vontade por favor comente por aqui como foi!


***************************************************

Ivo Michalick, 30 de junho de 2017
Twitter: @ivomichalick
Belo Horizonte - BRASIL


segunda-feira, 6 de março de 2017

Atualização do meu projeto

Muita gente tem me perguntado sobre o status do meu projeto de recuperação, e apesar dele ainda estar em andamento e com algumas definições importantes por acontecer eu decidi postar por aqui um novo relato, vamos lá:

Depois da negativa da UNIMED-BH em cobrir o exame PET-TC eu recorri à via judicial, e consegui liminar em agosto passado. Fiz o exame em setembro, e no laudo aparece a expressão a seguir:


"Lesão hipermetabólica expansiva no corpo vertebral de T10 e T11 compatível com plasmocitoma metabolicamente ativo."


O que em bom português indica que o tumor parece continuar ativo. Em seguida fiz mais uma grande quantidade de exames, os mais importantes sendo:

1. Biópsia da medula, em out-16: deu negativo, o que significa que pelo menos na minha medula, que foi de onde saíram as células que geraram o tumor, não tenho nada doente no momento, o que é uma excelente notícia. 

Procedimento relativamente simples, fiz pela segunda vez. Vou a um ambulatório, me dão uma sedação de cerca de 30 minutos, e quando acordo o procedimento já foi encerrado! Ainda bem, pois não queria precisar ver a agulha, que sei que é enorme :)

2. Biópsia fechada do tumor, com agulha, em nov-16: esta é um pouco mais chata, pois precisei me internar e passar um dia inteiro no hospital. Além disto o procedimento envolve anestesia geral e, pela localização do tumor (incrustado ao redor da minha espinha), apresenta certo risco. Foi feito com (de novo!) uma agulha enorme que mais uma vez não vi e o cirurgião se guia por imagens de tomografia em tempo real (esta parte eu queria ter visto!). Trata-se de um procedimento menos invasivo do que a outra alternativa, que seria a biópsia aberta, mas com possibilidade de dar errado no sentido de não conseguir pegar amostras significativas do tumor para análise. E foi isto que acabou ocorrendo, e o pior é que para descobrir foi preciso esperar cerca de duas semanas pelo resultado...

Aí veio Natal, viagem do cirurgião que fez as minhas biópsias do tumor (o mesmo que me operou em agosto de 2015) e um janeiro em que eu tinha agendados 10 dias de férias com a família num resort na Bahia, seguidos de outra viagem de 10 dias aos Estados Unidos, para reuniões do PMI (Project Management Institute) em Philadelphia e quatro dias de passeio rápido em New York e Miami (afinal sabe-se lá quando terei oportunidade de voltar aos Estados Unidos dada a incerteza do meu projeto, certo?).

3. Biópsia aberta do tumor, em 17-fev-17: agendada inicialmente para 03-fev, adiada a meu pedido depois que entendi a complexidade da coisa, bem maior do que eu pensei inicialmente. Eu achei que poderia atender compromissos profissionais agendados já a partir de segunda, e aí descobri que se trata de uma verdadeira cirurgia, com anestesia geral, abertura via corte e intervenção direta na região do tumor para retirada de amostras com apoio visual. Previsão de dois a três dias no hospital seguidos de uma semana de repouso.

O resultado da biópsia chegou hoje (06-mar), mas só terei consulta com a minha médica mais no fim desta semana. De qualquer forma estou trabalhando (como gerente de projetos que sou!) com o pior cenário, que prevê tratamento quimioterápico, provavelmente a começar ainda este mês. O que vier melhor do que isto será lucro!

Este período de agosto até agora não tem sido fácil, mas ao mesmo tempo é "fichinha" quando penso no que passei nos meses logo depois da cirurgia inicial. Busquei levar a vida da melhor forma possível, mas reduzi drasticamente minha carga de trabalho e de viagens, o que estou retomando agora. Também devo dizer que tive altos e baixos em termos de estado mental, mas as técnicas de mindfulness e outras que citei numa postagem anterior sobre o projeto me ajudaram bastante.

Uma coisa que este projeto trouxe para mim foi me levar a refletir de forma mais profunda sobre o meu projeto de vida para os próximos dez anos. A motivação é bem simples: a mediana de expectativa de vida para pessoas que possuem esta doença é de mais dez anos. Isto quer dizer que, mesmo que se este tumor vier a me matar um dia, isto ainda vai demorar muito tempo, e ainda tem muita coisa que eu quero e preciso fazer com a minha vida. Nesta reflexão uma frase que me marcou muito foi esta:

"Once you have mastered time, you will understand how true it is that most people overestimate what they can accomplish in a year - and underestimate what they can achieve in a decade!" (Tony Robbins)

Eu a ouvi pela primeira vez da boca do próprio Tony Robbins, no excepcional documentário "I am not Your Guru", disponível no Netflix, que aliás eu recomendo fortemente.





Uma decisão importante que eu tomei é que irei falar menos deste projeto e mais sobre outros temas que me interessam, não quero passar para vocês a ideia de que esta doença me define e tem muita coisa interessante que eu gostaria de compartilhar com vocês :)

**********************************
Ivo Michalick, 06 março de 2017
Belo Horizonte - BRASIL