Vocês já repararam que, quando a gente compra um carro de
uma cor, passamos a ver nas ruas muito mais carros desta mesma cor? Ou quando a
gente “toma birra” de uma pessoa parece que ela não faz mais nada certo? Pois
bem, estes são dois exemplos do que é conhecido como “distorções cognitivas”,
uma fonte potencial de muitos dos erros que cometemos em nossas vidas (pois é,
estou retomando o assunto da postagem “Errado,eu?!” .
Segue abaixo uma lista de 10 distorções cognitivas
identificadas por David D. Burns (um
dos maiores especialistas em CBT –Cognitive-Based Therapy ) em seu livro “Feeling Good: The NewMood Therapy” ,
vale a pena ler e refletir sobre quantas vezes erramos por conta de alguma
delas:
1. All-or-Nothing Thinking (Pensamento Tudo ou
Nada)
Enxergamos tudo em preto e branco. Nós nos consideramos os
melhores, e quando nosso desempenho não é perfeito concluímos que somos um
fracasso total. Um vendedor que bateu sua meta mensal quatro meses seguintes conclui,
ao não conseguir repetir seu desempenho no quinto mês: “Eu sou um péssimo
vendedor!”. Espero que esteja óbvio para todos que as duas posições não são
muito inteligentes!
2. Overgeneralization
(Generalização excessiva)
Nós enxergamos uma única ocorrência negativa como um padrão
contínuo de fracasso. O mesmo vendedor do item anterior perde uma venda par a
concorrência, apesar de quase sempre fechar suas vendas, e passa a pensar que
se trata de mais um fracasso numa longa série e passa a se considerar um
fracassado. Incorremos neste tipo de distorção em muitas das vezes em que
usamos as palavras SEMPRE (“EU SEMPRE consigo fechar minhas vendas.” e
NUNCA (“Eu NUNCA serei demitido por mau desempenho.”).
3. Mental Filter
(Filtro Mental)
Aqui seguimos na direção contrária da generalização
excessiva. Escolhemos uma ocorrência negativa e parece que não enxergamos mais
nada que a contradiga, e esta ocorrência passa a pautar nosso julgamento sobre
aquele tipo de evento. É o exemplo de quando “tomamos birra” de uma pessoa,
parece que a partir daí nada que ela fizer de bom nos fará mudar de opinião
(aliás é por causa disto que devemos tomar MUITO cuidado com a primeira
impressão que causamos em outras pessoas).
4. Discounting the
positive (Desqualificação do positivo)
Descartamos experiências positivas porque as consideramos
sem importância ou por acharmos que o outro lado possui interesses escusos. Seu
chefe busca lhe recompensar te dando uma atividade desafiadora, e você pensa
que ele só fez isto para tentar fazer com que você faça serviço que seria dele.
5. Jumping to
Conclusions (Conclusões precipitadas)
Aqui temos duas subcategorias: leitura mental, quando imaginamos que o outro irá reagir de uma
determinada forma, ou está pensando algo que nem passa por sua cabeça (“Meu
chefe não me cumprimentou hoje cedo, portanto ele não deve gostar de mim.”), e previsão do futuro, quando prevemos que
as coisas vão se desenrolar de uma determinada forma, o que nos faz desistir de
tentar algo diferente ou difícil.
6. Magnification
(Amplificação exagerada)
Nós exageramos a importância de um evento menor, que para
outras pessoas não teria tamanha importância. Perdemos uma pessoa da nossa
equipe e passamos a achar que isto é o início do fim, que todo o resto da
equipe vai fazer o mesmo e isto poderá custar o nosso emprego.
7. Emotional
Reasoning (Raciocínio emocional)
Nós julgamos a nós mesmos ou as nossas circunstâncias
exclusivamente com base nas nossas emoções, e agimos a partir desta percepção.
Um gerente sente desconfiança de um funcionário e pensa: “se estou sentido isto
ele deve ter feito alguma coisa errada!”.
8. “Should”
Statements (Comandos “tem que ser assim”)
Acreditamos que o único jeito certo de fazer alguma coisa é
o nosso, e que quem fizer diferente está errado. Quando fazemos do nosso jeito
e dá errado nos sentimos péssimos, e quando alguém não faz do nosso jeito
reclamamos, mesmo quando a pessoa atinge o resultado esperado (aqui entra o “Filtro
Mental” visto no item 3).
9. Labelling (Rotulagem)
Aqui entramos no terreno do preconceito: em algum momento de
nossa vida fazemos um julgamento sobre nós ou outras pessoas e nunca mais
aceitamos rever nossa posição, pois associamos o julgamento à pessoa. Um pai
pode pensar: “não vou deixar meu filho brincar com o Juquinha, pois ele é um
menino violento.” (isto porque um dia recebeu a notícia de que o Juquinha
mordeu um colega durante uma brincadeira na escola). Em outras palavras:
assumimos de certa forma que nada nem ninguém é capaz de mudar.
10. Personalization
and Blame (Personalização e culpa)
Nós culpamos totalmente a nós mesmos ou a outras pessoas por
algo ruim, quando na verdade naquele contexto a culpa ou responsabilidade é
compartilhada (“Errado, eu?!”).
***
Uma transcrição da versão original em inglês a partir da qual gerei a lista acima pode ser encontrada aqui .
No texto de abertura dei dois exemplos de situações, e o da “birra”
eu classifiquei como Filtro Mental.
E o caso do carro? Trata-se de um "Confirmation bias" (viés de
confirmação), do qual já tratamos aqui .
****** Nova Lima, BRASIL - 26 de maio de 2013.
Muito bom Ivo !
ResponderExcluirA Mente tem armadilhas que a própria pessoa desconhece. Fica a pergunta: é possível um GP livre de tais distorções ou só é possível"amortizar" esses processos cognitivos?
ResponderExcluirEu sou o mestre do "Desqualificação do positivo" e do bom e velho "Conclusões precipitadas". :)
ResponderExcluirBom para refletir e rever alguns conceitos! Valeu Ivo!
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