domingo, 26 de maio de 2013

Distorções cognitivas

Vocês já repararam que, quando a gente compra um carro de uma cor, passamos a ver nas ruas muito mais carros desta mesma cor? Ou quando a gente “toma birra” de uma pessoa parece que ela não faz mais nada certo? Pois bem, estes são dois exemplos do que é conhecido como “distorções cognitivas”, uma fonte potencial de muitos dos erros que cometemos em nossas vidas (pois é, estou retomando o assunto da postagem “Errado,eu?!” .

Segue abaixo uma lista de 10 distorções cognitivas identificadas por David D. Burns (um dos maiores especialistas em CBT –Cognitive-Based Therapy  ) em seu livro “Feeling Good: The NewMood Therapy” , vale a pena ler e refletir sobre quantas vezes erramos por conta de alguma delas:

1. All-or-Nothing Thinking (Pensamento Tudo ou Nada)

Enxergamos tudo em preto e branco. Nós nos consideramos os melhores, e quando nosso desempenho não é perfeito concluímos que somos um fracasso total. Um vendedor que bateu sua meta mensal quatro meses seguintes conclui, ao não conseguir repetir seu desempenho no quinto mês: “Eu sou um péssimo vendedor!”. Espero que esteja óbvio para todos que as duas posições não são muito inteligentes!


2. Overgeneralization (Generalização excessiva)

Nós enxergamos uma única ocorrência negativa como um padrão contínuo de fracasso. O mesmo vendedor do item anterior perde uma venda par a concorrência, apesar de quase sempre fechar suas vendas, e passa a pensar que se trata de mais um fracasso numa longa série e passa a se considerar um fracassado. Incorremos neste tipo de distorção em muitas das vezes em que usamos as palavras SEMPRE (“EU SEMPRE consigo fechar minhas vendas.” e NUNCA (“Eu NUNCA serei demitido por mau desempenho.”).


3. Mental Filter (Filtro Mental)

Aqui seguimos na direção contrária da generalização excessiva. Escolhemos uma ocorrência negativa e parece que não enxergamos mais nada que a contradiga, e esta ocorrência passa a pautar nosso julgamento sobre aquele tipo de evento. É o exemplo de quando “tomamos birra” de uma pessoa, parece que a partir daí nada que ela fizer de bom nos fará mudar de opinião (aliás é por causa disto que devemos tomar MUITO cuidado com a primeira impressão que causamos em outras pessoas).


4. Discounting the positive (Desqualificação do positivo)

Descartamos experiências positivas porque as consideramos sem importância ou por acharmos que o outro lado possui interesses escusos. Seu chefe busca lhe recompensar te dando uma atividade desafiadora, e você pensa que ele só fez isto para tentar fazer com que você faça serviço que seria dele.


5. Jumping to Conclusions (Conclusões precipitadas)

Aqui temos duas subcategorias: leitura mental, quando imaginamos que o outro irá reagir de uma determinada forma, ou está pensando algo que nem passa por sua cabeça (“Meu chefe não me cumprimentou hoje cedo, portanto ele não deve gostar de mim.”), e previsão do futuro, quando prevemos que as coisas vão se desenrolar de uma determinada forma, o que nos faz desistir de tentar algo diferente ou difícil.


6. Magnification (Amplificação exagerada)

Nós exageramos a importância de um evento menor, que para outras pessoas não teria tamanha importância. Perdemos uma pessoa da nossa equipe e passamos a achar que isto é o início do fim, que todo o resto da equipe vai fazer o mesmo e isto poderá custar o nosso emprego.


7. Emotional Reasoning (Raciocínio emocional)

Nós julgamos a nós mesmos ou as nossas circunstâncias exclusivamente com base nas nossas emoções, e agimos a partir desta percepção. Um gerente sente desconfiança de um funcionário e pensa: “se estou sentido isto ele deve ter feito alguma coisa errada!”.


8. “Should” Statements (Comandos “tem que ser assim”)

Acreditamos que o único jeito certo de fazer alguma coisa é o nosso, e que quem fizer diferente está errado. Quando fazemos do nosso jeito e dá errado nos sentimos péssimos, e quando alguém não faz do nosso jeito reclamamos, mesmo quando a pessoa atinge o resultado esperado (aqui entra o “Filtro Mental” visto no item 3).


9. Labelling (Rotulagem)

Aqui entramos no terreno do preconceito: em algum momento de nossa vida fazemos um julgamento sobre nós ou outras pessoas e nunca mais aceitamos rever nossa posição, pois associamos o julgamento à pessoa. Um pai pode pensar: “não vou deixar meu filho brincar com o Juquinha, pois ele é um menino violento.” (isto porque um dia recebeu a notícia de que o Juquinha mordeu um colega durante uma brincadeira na escola). Em outras palavras: assumimos de certa forma que nada nem ninguém é capaz de mudar.


10. Personalization and Blame (Personalização e culpa)

Nós culpamos totalmente a nós mesmos ou a outras pessoas por algo ruim, quando na verdade naquele contexto a culpa ou responsabilidade é compartilhada (“Errado, eu?!”).
***

Uma transcrição da versão original em inglês a partir da qual gerei a lista acima pode ser encontrada aqui .

No texto de abertura dei dois exemplos de situações, e o da “birra” eu classifiquei como Filtro Mental. E o caso do carro? Trata-se de um "Confirmation bias" (viés de confirmação), do qual já tratamos aqui .

 Um abraço a todos!

****** Nova Lima, BRASIL - 26 de maio de 2013.

4 comentários:

  1. A Mente tem armadilhas que a própria pessoa desconhece. Fica a pergunta: é possível um GP livre de tais distorções ou só é possível"amortizar" esses processos cognitivos?

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  2. Eu sou o mestre do "Desqualificação do positivo" e do bom e velho "Conclusões precipitadas". :)

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  3. Bom para refletir e rever alguns conceitos! Valeu Ivo!

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