Pessoal,
Este texto busca complementar o que falei neste
outro (Fronteira entre gerente do projeto e trabalho da equipe):
1. Minha formação é em
Ciência da Computação (bacharelado e mestrado). Na minha carreira gerenciei projetos em setores como Energia, Defesa, Logística e Telecomunicações, dentre outros. Alguns foram de desenvolvimento de sistemas, mas a grande maioria foi em áreas nas quais inicialmente eu não tinha nenhum conhecimento técnico sobre as principais disciplinas técnicas do projeto.
2. O mundo não é preto ou branco, ele é cinza, cada projeto tem características específicas, mas penso que o papel do GP é muitas vezes superdimensionado, continuo achando, com base na minha experiência pessoal e estudos, que GP bom com equipe fraca dificilmente terá sucesso, mas o contrário é mais provável. E é claro que a situação ideal é GP + equipe com alto grau de qualificação!
3. Citando a mim mesmo no texto original:
"E o que faz um bom GP? São muitos os fatores, mas um que considero essencial é: conhecimento do negócio e da organização executora. Posso não entender nada sobre o processo de tirar minério de ferro debaixo da terra e entregar este minério para um cliente a 5.000 quilômetros de distância, mas como GP de um projeto destes me ajuda demais conhecer o negócio da companhia e como ela é estruturada e tem por costume fazer seus projetos. Isto é, preciso conhecer bem o negócio e os processos de gestão envolvidos. Isto mais uma excelente equipe é meio caminho andado para o sucesso!"
Vejo conhecimento do negócio e da empresa como mais importantes do que o conhecimento técnico, e esta importância aumenta na medida em que o projeto se torna mais complexo e multidisciplinar. Trabalhei alguns anos em projetos de desenvolvimento de produtos sob encomenda para clientes externos, e precisava entender mais das necessidades e da forma de atuação dos clientes que nos demandavam do que das disciplinas envolvidas. É claro que depois de uns anos acabei ficando meio que "especialista em desenvolvimento de produtos" (ou pelo menos no tipo de produtos que nossos clientes nos demandavam na época), e acho que minha formação educacional e meus mais de 10 anos em projetos de automação (cada projeto me exigia entender profundamente um processo diferente) devem ter ajudado.
Mas o que afinal então um GP precisa ter para conseguir sucesso em seus projetos? Isto é mote para vários outros textos, mas para começar, e para que ninguém me acuse de só falar de
PMI quando falo de GP, vou listar aqui as competências listadas pela
IPMA, outra associação que busca promover o gerenciamento de projetos em nível mundial, em seu excelente
IPMA Competence Baseline V. 3.0:
(
Trechos da tradução do documento para o português de Portugal, feita pela APOGEP):
• Grupo de competências técnicas – para descrever os elementos de competência de gestão de projectos fundamentais. Este grupo cobre o conteúdo de gestão de projectos, por vezes referido como os elementos sólidos. O ICB contém 20 elementos de competência técnica:
1. Sucesso da gestão do projecto
2. Partes interessadas
3. Requisitos e objectivos do projecto
4. Riscos e oportunidades
5. Qualidade
6. Organização do Projecto
7. Trabalho em equipa
8. Resolução de problemas
9. Estruturas do projecto
10. Âmbito e entregáveis
11. Tempo e fases do projecto
12. Recursos
13. Custos e gestão financeira
14. Aprovisionamento e contratos
15. Alterações
16. Controlo e relatórios
17. Informação e documentação
18. Comunicação
19. Arranque do projecto
20. Encerramento do projecto
• Grupo de competências comportamentais – para descrever os elementos de competência pessoal do gestor de projecto. Este grupo cobre atitudes e habilitações do gestor de projectos. O ICB contém 15 elementos de competência comportamental:
1. Liderança
2. Empenho e motivação
3. Auto controlo
4. Assertividade
5. Descompressão
6. Abertura
7. Eficiência
8. Orientação para os resultados
9. Criatividade
10. Aconselhamento
11. Negociação
12. Conflito e crise
13. Fiabilidade
14. Apreciação de valores
15. Ética
• Grupo de competências contextuais – para descrever os elementos de competência do gestor de projecto relacionados com o contexto do projecto. Este grupo cobre as competências do gestor de projecto na gestão das relações com os gestores funcionais e a capacidade de funcionar numa organização orientada a projectos. O ICB contém 11 elementos de competência contextual:
1. Orientação a projectos
2. Orientação a programas
3. Orientação a portfolios
4. Implementação de projectos, programas e portfolios
5. Organização
6. Negócio
7. Sistemas, produtos e tecnologia
8. Gestão de pessoal
9. Saúde, segurança e ambiente
10. Gestão financeira
11. Competências Aspectos legais
Em inglês, a lista é assim:
Já pensou se o GP, além de precisar dominar estas 46 competências, precisasse ainda ser especialista em todas as áreas técnicas necessárias ao projeto?!
Steve Jobs
General Leslie Groves, gerente do projeto Manhattan
***** Ivo Michalick, 11 de abril de 2011, Belo Horizonte - BRASIL