sábado, 20 de abril de 2013

Errado, eu?!

Há alguns anos eu precisei levar meu carro para consertar uma roda empenada. Fui na região da avenida Catalão, uma parte de Belo Horizonte pela qual passei por muitos anos indo e vindo da escola mas na qual nunca parei.

A oficina que fez o conserto tinha um aspecto meio bagunçado, sujo até, mas depois de cerca de uma hora o serviço estava pronto. Na hora de pagar o rapaz do caixa perguntou meu nome para o recibo, e aí travamos o seguinte diálogo:

  - Caixa: Nome completo.
  - Eu: Ivo Márcio Michalick Vasconcelos.
  - Caixa: Ivo o quê?
  - Eu: Põe Ivo M. M. Vasconcelos.
  - Caixa: ah, o da balinha!

Esta última frase me tirou do sério! Esta pessoa está brincando comigo sem me conhecer, tentando insinuar que eu mexo com droga!? Fiquei muito irritado e na mesma hora peguei a Luiza (minha esposa) para irmos logo embora daquele lugar e nunca mais voltar! E Luiza sem entender nada, pois não estava perto na hora do diálogo...

Quando cheguei no carro e relatei o diálogo para ela e falei da minha irritação, ela começou a rir. E como dizem que uma imagem vale mais do que mil palavras, confiram esta:



Entenderam? O rapaz se referiu ao chocolate M&M, por ele chamado de "balinha"...

Devo dizer que na hora não concordei com a Luiza de jeito nenhum, pois como um cara inteligente como eu iria se confundir desta forma? Só muitos meses depois, folheando uma revista e vendo uma imagem parecida com a acima é que eu reconheci meu erro e mudei de opinião... A Luiza brinca comigo até hoje por causa desta estória!

E por que eu contei esta estória? Como gancho para falar de um livro MUITO bom: 





Me lembro direitinho do dia em que comprei meu exemplar, na versão original em inglês: 14-mai-2001, na Livraria  Cultura do Conjunto Nacional em São Paulo.






"Disclaimer": só me lembro disto porque toda vez que compro um livro eu coloco na contracapa o meu nome, e a data e local da compra...

Esta é simplesmente a segunda melhor livraria que conheci na vida até hoje! E para quem ficou curioso sobre a primeira, é esta:





Eu tinha cinco tradições: toda vez que viajava eu procurava na cidade em que estava:

1. Um restaurante legal para jantar;
2. Um cinema para assistir um filme (em geral combinado com o item 1 acima);
3. Uma livraria para conhecer, e nesta comprar pelo menos um livro;
4. Uma loja de discos para conhecer, e nesta comprar pelo menos um disco (de vinil primeiro, e a partir de mais ou menos 1993 em CD);
5. Dar uma volta completa no quarteirão do hotel em que estivesse hospedado.

Por razões diversas tive que abandonar as tradições 2 e 4, mas tento manter as outras três!

Mas esperem, acho que estou divagando, vamos voltar para "Por que Erramos?":

Nós todos erramos, e muito. Mas temos uma ENORME dificuldade em admitir que estamos errados. E o pior é que esta dificuldade é tão maior quanto maior for a nossa convicção e a importância do assunto m consideração. Por isto quando achamos alguém que discorda de nós nos sentimos impelidos a mostrar para aquela pessoa o quanto ela está errada, fazemos de tudo para trazê-la para o lado da razão, que não por coincidência é o nosso... Querem um exemplo concreto? Pensem em alguém que conheçam que mudou de religião ou orientação política. Esta pessoa tenta hoje mostrar para todo mundo que o que ela pensa agora é que é o certo, e não gosta muito de se lembrar do tempo em que tinha uma convicção diametralmente oposta, pois assim teria que admitir que estava errada por grande parte de sua vida a respeito de algo de grande importância para ela.

Eu me acho uma pessoa sensata e inteligente, e tenho uma determinada opinião sobre um assunto. Também te acho uma pessoa sensata e inteligente, mas descubro que sua opinião sobre este assunto é diametralmente oposta à minha? O que geralmente fazemos nestes casos? Tentamos mudar a opinião do outro, afinal ele está errado e é uma pessoa sensata e inteligente como eu e que portanto precisa/merece ser corrigida!


Trata-se de uma tendência humana que nos leva a favorecer informação que confirma aquilo em que acreditamos e a rejeitar ou esquecer informação que não confirma nossa crença. Quanto mais forte a crença maior o viés, por isto se queremos estar certos devemos antes de tudo reconhecer que podemos estar errados!



O livro da Kathryn, que se auto-intitula "errologista" ("wrongologist") é sobre tudo isto e muito mais! Valeu demais a visita aquela visita à Livraria Cultura do Conjunto Nacional em 2011...

Tome cuidado, pois uma cultura que não admite o erro pode levar ao Groupthink e a uma falsa unanimidade, já falei disto por aqui. Por tudo isto sempre que sinto que estou sendo muito rígido sobre alguma posição, ou quando alguém diz que estou errado, penso no "confirmation bias" e me lembro deste trecho de uma música do grande Raul Seixas:

"Eu prefiro ser
Essa metamorfose ambulante
Do que ter aquela velha opinião
Formada sobre tudo" 
(trecho de "Metamorfose Ambulante", letra e música de Raul Seixas)





Leu o que escrevi até aqui e achou o assunto interessante? Então fique por aqui mais 18 minutos e confira esta palestra TED da Kathryn, com legendas em português:



Um abraço, e até a próxima!

****** Nova Lima, BRASIL - 29 de março 20 de abril de 2013.




3 comentários:

  1. Ivo, bom legal este seu post. Parabéns.

    Gustavo

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  2. Tem um livro divertido que chama microtrends. Neste livro, existe uma citação a uma estatística que eu acho interessantíssima. 90% dos pais se auto-avaliam como muito bons ou ótimos. E 60% dos pais avaliam os demais pais como "medianos". Acho que resume bem a coisa ;-) Eu chamo carinhosamente de "a lei do 60/90", para complementar a útil "regra do 80/20"

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  3. Kenji, este é mais um dentre vários exemplos do "viés de confirmação" ("confirmation bias"): nossa memória é seletiva, ela retém com mais facilidade tudo o que nos "deixa bem na foto", e tende a descartar lembranças que não são bos para a nossa imagem. É por isto que por exemplo a maioria de nós se acha melhor profissional do que realmente é :)

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