sábado, 28 de março de 2015

Fritz Perls, eu, você e Raul

Esta postagem está sendo escrita numa ensolarada manhã de sábado, um dia depois de ouvir meu amigo Ricardo Triana citar em sua palestra no evento PMO Summit no Rio uma frase que me lembrou da "Oração da Gestalt" de Fritz Perls. Isto depois de, nas últimas duas ou três semanas, ter me lembrado deste pequeno mas (ao menos para mim) impactante texto. Antes de avançar vamos conferir esta tal "oração":


"Eu faço as minhas coisas e você faz as suas.
Não estou neste mundo para satisfazer as suas expectativas.
E você não está neste mundo para corresponder às minhas.
Você é você, e eu sou eu,
E se por acaso nos encontrarmos será maravilhoso.
Se não, não há nada a fazer."
(minha tradução)

É curioso, eu conheci a "oração" há cerca de 25 anos, no início de um processo de psicoterapia. E confesso que foi amor à primeira vista! Sempre fui visto por quem é próximo de mim como uma pessoa individualista, que não se importa com a opinião dos outros a meu respeito. O que aliás é parcialmente verdade, para mim o mais importante nesta frente é como me percebo com relação às minhas próprias expectativas para o que chamo de meu "eu potencial". Não me entendam mal (mas se isto ocorrer paciência, pois "eu sou eu e você é você"), sou uma pessoa que se considera generosa e que se importa com o bem estar dos outros, mas me considero meu maior e melhor crítico (afinal vivo comigo 24 horas por dia!).

Estas percepções dos outros não eram suficientes para mudar meu comportamento, mas eram algo que me deixava chateado e que de certa forma me levou, dentre outros fatores, a procurar um psicoterapeuta (na época acho que não existiam coaches no Brasil...). E aí, logo numa das primeiras sessões, fui apresentado à oração, e entendi que estava certo e não precisava mudar em função do que os outros diziam! E ainda mais importante, durante o processo enxerguei que precisava mudar sim (ou melhor, me aperfeiçoar), mas de forma a atingir as expectativas que coloquei para mim mesmo, não as de outras pessoas.

Quando você começa a refletir sobre a "oração" costuma enxergar coisas que até então não havia considerado. Alguns exemplos pessoais:

 - Não adianta querer ter ou ser o que o outro tem ou é. Corremos o risco de conseguir e ainda assim nos sentirmos vazios.

 - Por outro lado, não dá para vivermos sem refletir sobre o nosso papel neste mundo, que por sinal é multifacetado. No meu caso por exemplo me vejo como pai, marido, consultor, coach, filho, amigo e professor, dentre outros, e procuro alcançar meu "eu potencial" em cada um deles.

- Não devemos tentar mudar o outro, temos que aceitar as pessoas como elas são.

- Só porque o outro não pensa como você ou não gosta das mesmas coisas que você isto não significa que ele é pior do que você. Ele é simplesmente diferente.

- (Esta é para os pais e mães que me leram até aqui) Devemos educar os nossos filhos para que descubram e alcancem suas próprias expectativas, e não as nossas. Precisamos tomar MUITO cuidado para não projetarmos nos filhos o que desejamos para nós mesmos, pois "eu sou eu e você é você". Claro que isto não nos dispensa de educá-los, muito pelo contrário, precisamos passar para os nossos filhos os nossos valores, mas ao mesmo tempo dar a eles a oportunidade de descobrirem e desenvolverem suas individualidades. E pelo exemplo, sempre que possível! 

E o Raul nesta estória toda? Sou grande fã, e já o citei aqui. Pois me lembrei dele de novo escrevendo este texto, confiram este trecho da música "Ouro de Tolo":




É claro que como toda forma de arte existem múltiplas interpretações, mas no meu caso fica claro o recado de que não dá para querermos viver com base em expectativas externas, pois isto pode nos levar ao (de novo Raul em "Ouro de Tolo"):

"...trono de um apartamento
Com a boca escancarada
Cheia de dentes
Esperando a morte chegar."




***** 

Nova Lima, BRASIL - 28 de março de 2015.

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