"Eu faço as minhas coisas e você faz as suas.
Não estou neste mundo para satisfazer as suas expectativas.
E você não está neste mundo para corresponder às minhas.
Você é você, e eu sou eu,
E se por acaso nos encontrarmos será maravilhoso.
Se não, não há nada a fazer."
(minha tradução)
É curioso, eu conheci a "oração" há cerca de 25 anos, no início de um processo de psicoterapia. E confesso que foi amor à primeira vista! Sempre fui visto por quem é próximo de mim como uma pessoa individualista, que não se importa com a opinião dos outros a meu respeito. O que aliás é parcialmente verdade, para mim o mais importante nesta frente é como me percebo com relação às minhas próprias expectativas para o que chamo de meu "eu potencial". Não me entendam mal (mas se isto ocorrer paciência, pois "eu sou eu e você é você"), sou uma pessoa que se considera generosa e que se importa com o bem estar dos outros, mas me considero meu maior e melhor crítico (afinal vivo comigo 24 horas por dia!).
Estas percepções dos outros não eram suficientes para mudar meu comportamento, mas eram algo que me deixava chateado e que de certa forma me levou, dentre outros fatores, a procurar um psicoterapeuta (na época acho que não existiam coaches no Brasil...). E aí, logo numa das primeiras sessões, fui apresentado à oração, e entendi que estava certo e não precisava mudar em função do que os outros diziam! E ainda mais importante, durante o processo enxerguei que precisava mudar sim (ou melhor, me aperfeiçoar), mas de forma a atingir as expectativas que coloquei para mim mesmo, não as de outras pessoas.
Quando você começa a refletir sobre a "oração" costuma enxergar coisas que até então não havia considerado. Alguns exemplos pessoais:
- Não adianta querer ter ou ser o que o outro tem ou é. Corremos o risco de conseguir e ainda assim nos sentirmos vazios.
- Por outro lado, não dá para vivermos sem refletir sobre o nosso papel neste mundo, que por sinal é multifacetado. No meu caso por exemplo me vejo como pai, marido, consultor, coach, filho, amigo e professor, dentre outros, e procuro alcançar meu "eu potencial" em cada um deles.
- Não devemos tentar mudar o outro, temos que aceitar as pessoas como elas são.
- Só porque o outro não pensa como você ou não gosta das mesmas coisas que você isto não significa que ele é pior do que você. Ele é simplesmente diferente.
- (Esta é para os pais e mães que me leram até aqui) Devemos educar os nossos filhos para que descubram e alcancem suas próprias expectativas, e não as nossas. Precisamos tomar MUITO cuidado para não projetarmos nos filhos o que desejamos para nós mesmos, pois "eu sou eu e você é você". Claro que isto não nos dispensa de educá-los, muito pelo contrário, precisamos passar para os nossos filhos os nossos valores, mas ao mesmo tempo dar a eles a oportunidade de descobrirem e desenvolverem suas individualidades. E pelo exemplo, sempre que possível!
E o Raul nesta estória toda? Sou grande fã, e já o citei aqui. Pois me lembrei dele de novo escrevendo este texto, confiram este trecho da música "Ouro de Tolo":
É claro que como toda forma de arte existem múltiplas interpretações, mas no meu caso fica claro o recado de que não dá para querermos viver com base em expectativas externas, pois isto pode nos levar ao (de novo Raul em "Ouro de Tolo"):
"...trono de um apartamento
Com a boca escancarada
Cheia de dentes
Esperando a morte chegar."
*****
Nova Lima, BRASIL - 28 de março de 2015.
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