Wal e o Setembro Amarelo

 Nesta semana Walewska Oliveira (Wal), campeã olímpica de vôlei feminino em 2008, 42 anos, natural de Belo Horizonte (minha cidade), onde foi enterrada na manhã de hoje, se matou saltando do 17o. andar de um prédio em São Paulo. Um dia antes ela gravou esta entrevista:

(EM MEMÓRIA - Programa Gravado no dia 20/09/23 às 15h) Alê Oliveira | Walewska - ATAQUE DEFESA #26

Na entrevista ela aparece animada, falando da vida, da carreira e dos novos projetos. Para nós que estamos de fora o ato dela cerca de um dia depois não faz sentido, mas só quem já sentiu a dor interior que leva uma pessoa a se matar vê sentido no que Walewska fez.

Troquei comentários com uma pessoa numa página de notícias. A pessoa fala em egoísmo da parte de quem comete um ato destes, e eu retruquei falando sobra uma dor interior insuportável e doença mental, em especial a mais traiçoeira delas, a depressão. A maior parte das doenças físicas apresenta sintomas visíveis para outras pessoas. No caso da depressão isto não é tão claro, e muitas vezes quem está próximo do doente não consegue enxergar os sintomas, menos ainda perceber seu grau de intensidade.

Devemos praticar o autocuidado e dar amor e atenção a quem está perto de nós. E se a coisa apertar, devemos pedir ajuda de alguém próximo de nós ou recorrer à ajuda especializada do CVV (Centro de Valorização da Vida), que funciona 24 horas por dia (inclusive aos feriados) pelo telefone 188, e também atende por e-mail, chat e pessoalmente. São mais de 120 postos de atendimento em todo o Brasil.

Como não tenho muitas palavras a dizer sobre algo tão profundo e importante, recorro a esta coluna de Alicia Klein:

A queda de Walewska e as dores silenciosas de que precisamos falar 

Escrevo esta postagem durante o Setembro Amarelo, uma campanha de conscientização sobre a importância da prevenção do suicídio.

*** Belo Horizonte, 23 de setembro de 2023.

Hemingway, "O Velho e o Mar" e a Essência do Minimalismo

 Em tempos de excessos, onde a informação é abundante e muitas vezes esmagadora, encontro refúgio nas palavras de Ernest Hemingway. O autor, conhecido por seu estilo conciso e direto, é um ícone do minimalismo literário. E talvez sua obra mais emblemática neste sentido seja "O Velho e o Mar".

A história, que narra a luta de um velho pescador com um marlim gigante, é uma metáfora poderosa sobre a resiliência humana e a busca incessante por significado em meio à adversidade. Com poucas palavras, Hemingway consegue transmitir emoções profundas e universais, mostrando que, muitas vezes, menos é mais (o livro tem cerca de 100 páginas e dá para ler no tempo que se gastaria para assistir a um filme).

Esta abordagem minimalista, que me agrada muito, não se limita apenas à literatura. Em minha jornada pessoal e profissional tenho buscado aplicar o minimalismo em diversas áreas. Seja na forma como organizo meu tempo (inspirada no Método GTD, de David Allen), nas decisões que tomo ou nas relações que cultivo, o minimalismo se apresenta como uma ferramenta poderosa para me ajudar a separar o essencial do supérfluo.

Ao refletir sobre "O Velho e o Mar", percebo que a luta do pescador não é apenas contra o peixe, mas contra seus próprios demônios internos, suas dúvidas e medos. E, assim como ele, todos nós enfrentamos nossos próprios "marlins" diariamente. No entanto, adotando uma abordagem minimalista podemos focar no que realmente importa, enfrentando nossos desafios com determinação e clareza e tomando decisões de forma mais eficaz e alinhada com nossos valores.

Em um mundo onde a complexidade muitas vezes nos oprime (confira minha "pílula" sobre Pensamento Complexo), as palavras de Hemingway servem como um lembrete de que a simplicidade tem seu próprio poder. E, ao abraçar o minimalismo, podemos encontrar a paz e o propósito que tanto buscamos. Termino com um trecho tirado do livro, para nossa reflexão:

"Agora não há tempo para pensar no que você não tem. Pense no que pode fazer com o que tem." (Ernest Hemingway em "O Velho e o Mar")

P.S.: sabia que Hemingway morou muitos anos em Cuba (foi lá que ele escreveu "O Velho e o Mar"), ganhou o Nobel de Literatura em 1954 e se matou com um tiro de fuzil de caça em 1961? E que seu pai também cometeu suicídio?

*** Belo Horizonte, 21 de setembro de 2023.